terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A despedida

Amanhã cruzo uma barreira sem volta. Minha fase de cadernos revirados, estojos incompletos, listas de presença e um pouco de descontração após a aula (seja ela na porta da escola ou dentro de um bar) acabaram.

Quando acordar no dia que abre fevereiro serei a Karina jornalista, a Karina profissional, a Karina trabalhadora e não mais a estudante de tantos anos.

Acabará nas horas que intermediarão a euforia e o amanhecer aquilo pelo qual tanto tempo me dediquei, aquilo que me consumiu, que me deu prazer e trouxe angústias. Os estudos se encerram assim, numa pista de dança.

Aos menos idealistas e politicamente corretos digo que apesar de nunca as leituras se cessarem ou até mesmo as aulas voltarem a existir na minha vida nada será como antes, simplesmente porque a alma de aluna será abandonada junto com a maquiagem no dia seguinte.

Os frios na barriga antes das provas e as noites passadas em claro em cima de papéis turvos serão substituídas pelas reuniões intermináveis e pelos prazos a serem cumpridos.

Novas conquistas virão, novas metas serão impostas e novos objetivos traçados mas nada substituirá as medalhas de honra ao mérito, as prêmios nos shows de talentos e a nota 10 da matéria mais chata.

Serão insubstituíveis simplesmente porque será deixada para trás a ingenuidade adolescente, a displicência juvenil, as brincadeiras de criança que naturalmente serão lembradas como passado.

Para os próximos passos dedicarei toda a minha humanidade, meu afeto e minha esperança, tentando sempre cultivar nos amigos os laços irrompíveis com as histórias já vividas.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Elos

Eu queria saber que fio da meada eu perdi. Onde foram parar as simpáticas tardes de sorvete na beira da piscina, o amor ingênuo das crianças, o aperto de mão que vale mais que beijo?

Sinto tanta falta dos pãezinhos com gosto de tranqüilidade, dos telefonemas mansos e das piadas alegres. Dos ensaios de dança, da bagunça às 15h30, do todynho que insistia em cair.

Costumo dizer que era feliz e sabia, sim! Nunca duvidei da alegria, das brisas matinais e das músicas que faziam os pés mexerem sem querer.

Até dói a saudade das excursões que pareciam voltas ao mundo, da tatuagem de canetinha, das marias-chiquinhas, da timidez tão singela.

Os tempos de prazer mais intenso terminam quando a ingenuidade é esvaziada. Nem o mal era tão mal nem o bem tão bem. Mas tudo vivia em perfeita harmonia. Assim, prejudicar uma pessoa era dedurar que ela não tinha feito a lição-de-casa e o benefício vinha na mesma moeda quando se ajudava alguém com um exercício mais complicado.

Hoje, de frente com a realidade que me persegue, fico buscando saídas para me esconder das armas que estão nas mãos de toda e qualquer pessoa. Perceba que o futuro está muito mais perto do que o passado e que as soluções são sempre as mais difíceis.

Pagar contas é o de menos apesar de sempre parecer o de mais. Complicado mesmo é encarar os dilemas da mulher/mãe, os desafios da mulher/trabalhadora, as tarefas da mulher/dona de casa, as incertezas da mulher/esposa, os avanços da mulher/mulher. Entendendo que os homens passam, relativamente, pelos mesmos caminhos.
Olho para trás e se não fossem as lembranças incrustadas na mente não reconheceria as crianças que por muito tempo dividi as mesmas histórias e o meu tempo mais precioso.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Um pedido de socorro

O mal dos dias de hoje mais do que muito café, comida gordurosa, trabalho excessivo, programas de televisão são os e-mails.

Comece a reparar. Tudo começa a ser um desastre quando você abre sua caixa de entrada. São prazos, cobranças, lembretes, recados, reuniões, problemas, decisões.

Eu, como jornalista, já ouvi mil vezes que é incrível como as tecnologias se multiplicaram mas os prazos estão em constante diminuição. Impossível encontrar alguém que conteste isso.

Hoje, por exemplo, meu dia ia bem, produzi bastante no trabalho, caminhei tranquilamente uns 30 minutos para chegar em casa, cheguei em casa tomei um bom prato de sopa (sim, estou de dieta), sentei em frente ao computador com um sorriso no rosto e PUM, PAF, SOC, TOIM, BLUM.... parecia que o mundo iria acabar dentro dos próximos dez minutos dada a quantidade de coisas que eu tinha pra resolver.

Quem encontrar meu post à deriva na rede poderá achar que sou a editora-chefe do Jornal Nacional. Ledo engano. O que me resta é uma comissão de formatura a dez dias do evento com uns 413,78 itens pra resolver.

Alguém me ajuda?

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O famoso pé na bunda

Ele não acreditava em amor. Foi essa a conclusão que chegou quando seu fim de semana chegou ao fim. Estava desiludido dentro de um terno preto que segurava naturalmente uma pasta preta igual. O sol ardia em pleno meio-dia e ele dentro de um ônibus parado no trânsito. Seria isso que teria planejado quando na juventude pensava em seus trinta e poucos anos?

Estava lá resmungando pelo celular (que dentro do ônibus ganha proporções de megafone): "Não acredito mais no amor. Só encontro interesseiras. Acho que vou ser que nem aqueles executivos bem-sucedidos que só pensam em trabalho, se aposentam e vivem tranquilos".

A senhora do banco da frente não gostou: "Ainda existem umas e outras boas sim".

Ele fingiu que não escutou, prosseguiu o discurso inflamado contra a categroia de mulheres que não interessam por ele. Feio não era, mas tinha jeito daqueles chatos, pegadores de pé... Desceu com o fone preso no ouvido, meio cabisbaixo com o pé na bunda que tinha levado.

Mas esse é o final da história. O começo se deu no mesmo ambiente, nas mesmas condições, apenas uns cinco minutos antes. "A gente foi num restaurante, comemos umas comidas gregas (foi nessa hora que me interessei pelo papo). Gastei 160 reais. Ela levou uma amiga que não comeu. Depois quis tomar um café. Fomos na Ofisss (o que eu imagino que era Ofner). Depois pegamos um táxi na Paulista para Atílo Inocenti para ir na balada. Mais 24 reais para cada um. Elas nem se manifestaram. Paguei tudo. Beijo. Só ums beijinhos mixurucos. Ainda se tivesse dado beijo bom, beijo de novela, daí sim. Mas selinho aqui, selinho ali. E eu que pensei que nunca cairia nessa conversa. Tá bom, depois a gente se fala. Abração."

A menina que roubava livros

Pior que clichê é o não-clichê.
Algo que você não vê escrito todos os dias mas que tem a alma, o espírito de clichê.
É a expressão forçada, a palavra revolvida, a frase previsível.
Captei alguns exemplos:

Além do som do cheiro dos meus passos.

Um céu para chupar devagarinho.

As árvores usavam cobertores de neve.

Tinha os olhos frios e castanhos – feito manchas de café.

O céu parecia uma sopa, borbulhando e se mexendo.

Não restou outra coisa senão o nada da vida.

O espírito do menino estava mole e frio, feito sorvete.

Canelas que pareciam arame. Braços de cabide.

E isso porque ainda estou na página 30. Quando chegar na 478 não terei mais espaço para publicar. Apesar disso a história está me interessando. Mas tenho que parar, a vida de Casper Líbero me aguarda ansiosamente para mais uma matéria.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Atormentada

O que ninguém entende é que cansa. Detona, arrasa. Eu quero cama; a minha cama.



São listas, bagunças, agendas, prazos. Onde fica o tempo pras pernas ao ar? O momento do arrepio?



São tantas e tão confusas que ao invés de pararem, aumentam. E eu, estática.



O dia não chega e até lá fico inventando novas fórmulas, outros jeitinhos e as tardes se embolam e o novelo nunca desenrola.



Eu tenho que ir, pra ir de novo e nunca voltar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Eu tentei e não consegui

Nunca tente escrever mais de uma vez por noite. As ideias* são forçadas, as palavras não vêm. Por mais que você tente, tudo fica estranho, quase vulgar.

Interrompa a vontade. Escreva para quebrar a rotina de escrever sempre a mesma coisa. Só assim funciona. O resto não é gosto, é obrigação.

*O blog seguirá as novas regras do Acordo Ortográfico só quando eu lembrar quais são elas.

O não-fazer

Eu achei estranho. No começo da noite descobri que minha mãe também. Fiquei mais aliviada: esse sentimento era comum às duas.

É tão diferente que li jornal, assisti televisão, vi fotos e, agora, estou postando no blog.

Mas sabe que no final achei bom? Mais para frente vai dar para eu organizar os papéis, fazer artesanato, criar novas coisas e quem sabe escrever mais.

Minha cama, por outro lado, queria me expulsar. Eu resisti, mesmo com o barulho que entrava no meu quarto. Era uma manifestação pró-Palestina. Comecei a, internamente, gritar palavras de ordem. Deu uma vontadezinha de estar lá. Logo eu!
Só que o sono me acompanha a meses com uma intensidade louca. E, também por isso, foi melhor.

Apesar de tudo é um vazio. Como se estivesse deixando algo para trás. Sensação de esquecimento. Mas já conferi tudo e isso tenho certeza que não é.

O duro é começar a semana com essa preguiça.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Aquele instante!

Pulei sete ondas. Rezei pro céu. Abracei os amigos. Beijei o namorado.

Já era dia primeiro quando me dei conta do calor da situação, dos impulsos românticos, das tentativas de reconciliações.

Ainda era dia 31 quando caminhei pela areia interminável e percebi momentaneamente o raio da lua, a pressa em todos os instantes, a agitação do silêncio.

As malas, a comida transbordando, o gelo derretido, as buzinas enlouquecidas, os telefonemas ansiosos, a expectativa. São dois dias que parecem dez, ou mais. Ou algumas semanas, um mês, um ano.

O começo, o fim. Nunca o meio. Um segundo maniqueísta que separa o mal do bem ou, pior, o bem do mal. Antes nada, depois tudo. Percebem?

Li hoje: "É o pessoal tentando voltar à uma tal 'realidade' depois de uma suposta 'ficção' de prazeres nos feriadões de final de ano. Uma espécie de choque cultural ou profissional ou mesmo existencial coletivo".

Me poupem os hipócritas. Me poupem aqueles que não sentiram a brisa do mar, a comida da mãe, o avanço da maré, a terra nas mãos, a gota de suor. Me poupem os que não riram da sinceridade das crianças, das noites mal dormidas, das sons estranhos, da calma perdida.

E no ápice: "PUC eu sempre serei"....